A empresa, criada por Antônio Rodrigues, hoje produz sete tipos de cachaça, incluindo a bebida mista, com mel e castanha de baru
Se Minas Gerais se tornou polo da cachaça artesanal, um dos responsáveis é Antônio Rodrigues. O reconhecimento de Salinas, no Norte do estado, como capital nacional da cachaça também tem sua participação. Fundador da Seleta, marca que acaba de completar 40 anos, ele fez história por enfrentar preconceitos, investir em qualidade e se esforçar para ver o mercado como um todo crescer.
“Não é só completar 40 anos, o que já é difícil, mas completar 40 anos com o reconhecimento que temos. A Seleta é reconhecida pela qualidade em qualquer lugar. Isso que é mais gratificante”, aponta o diretor-executivo Gilberto Luiz, que está na terceira passagem pela empresa. Ele não se refere apenas ao público, mas também a especialistas. Só no ano passado, a bebida ganhou medalha de ouro em três concursos, um nacional e dois internacionais (França e Bélgica).
Seu Antônio começou envelhecendo cachaça “branca” em tonéis de madeira para revendê-la mais cara. Até que surgiu a oportunidade de comprar uma fazenda em Salinas e produzir a sua própria bebida. Pegou dinheiro emprestado e se endividou por acreditar neste mercado. “Ele começou a levar a cachaça para os quatro cantos do Brasil, enfrentando preconceito, para mostrar ao público que cachaça de qualidade não perde em nada para nenhuma outra bebida.”
Lá no início, seu Antônio levou um caminhão de cachaça para uma feira em Goiás. Como não vendeu nada, acabou distribuindo as garrafas para os participantes, mesmo com a situação financeira apertada. “Visionário como é, ele pensou: as pessoas vão experimentar, gostar e comprar. Hoje Goiás é um dos principais mercados da Seleta”, conta Gilberto. O estado fica atrás apenas de São Paulo e Minas.
Não por acaso, o fundador da Seleta se tornou um dos grandes impulsionadores da cachaça artesanal. Muitos produtores, inclusive, se inspiraram em sua história de sucesso. As visitas à fazenda são constantes. Seu Antônio sempre recebeu todos de braços abertos e nunca escondeu nada do processo produtivo. “Ele nunca enxergou ninguém como concorrente. Sempre quis desenvolver o mercado da cachaça como um todo.”
De tudo, o melhor
O nome Seleta vem de seleção, do compromisso de selecionar as melhores matérias-primas. Nestes 40 anos, a empresa não parou de fazer testes para chegar à melhor variedade de cana-de-açúcar, melhor adubo, melhor fermento, melhor tonel de madeira. Quinzenalmente, realiza análises sensoriais para direcionar o trabalho e buscar mais qualidade. “A experiência nos leva a nos aproximarmos cada vez mais da perfeição, mas não achamos que chegamos ao ideal. A cada lote queremos um produto melhor.”
Hoje a empresa produz sete cachaças. A Seleta Ouro, envelhecida por dois anos e meio em umburana, que lembra baunilha, é a primeira e nunca deixou de ser a mais vendida. Nos próximos meses, ela será vendida com rótulo comemorativo dos 40 anos. Outras madeiras são exploradas para agradar aos mais diversos paladares. Quem gosta de uísque costuma se apaixonar pela Antônio Rodrigues, a cachaça premium, que leva o nome do fundador, envelhecida por sete anos em carvalho francês. Ainda tem a Boazinha (bálsamo), Saliboa (ipê-amarelo) e Seleta Mix (jequitibá).
Dois lançamentos são mais recentes, entre eles o da Seleta Prata, cachaça que só descansa no inox por um ano. Ela é indicada para fazer caipirinha e drinques em geral. Há dois meses, a marca incorporou ao portfólio a primeira bebida mista (chamada assim por ter outros ingredientes além da cachaça). Ideal para beber gelada, a Seleta Eu Garanto mistura mel e castanha de baru, fruto típico do cerrado, receita que seu Antônio trouxe de Goiás. Outras combinações estão em teste.
“O que observo é que cada vez mais o público se permite tomar cachaça, um produto genuinamente brasileiro, dar valor à nossa cultura, com isso nosso mercado vai crescendo”, comenta Gilberto. Em breve, eles vão lançar um e-commerce, que terá venda de produtos exclusivos, como kits para presentear. Para os próximos anos, o plano é entrar de vez no mercado internacional, que está de olho na cachaça, talvez pelo boom do gim e do rum, que também são destilados de cana-de-açúcar.
Seu Antônio não está mais na produção, mas vai à empresa todos os dias, analisa as vendas, dá conselhos e participa das decisões mais importantes. Continua a defender qualidade e preços acessíveis. “Quando você faz um produto com zelo, quer que o máximo de pessoas tenham acesso a ele. É um orgulho para o seu Antônio ver uma pessoa no Amazonas consumindo a bebida que deu tanto trabalho para desenvolver. Isso é o sonho dele.”
A venda e o consumo de bebidas alcoólicas é proibida para menores de 18 anos. Beba com moderação e se beber não dirija.
Fonte: Jornal Estado de Minas
Reportagem: Celina Aquino